Pois é, eu conheci... Já conhecia a doença, mas era algo distante para mim, até agora.
Há 15 anos atrás, durante a
faculdade de Odontologia fiz um trabalho em conjunto com uma amiga e orientada
por duas maravilhosas professoras. O tema do trabalho era uma doença chamada
Líquen Plano, que provoca lesões cutâneas e bucais e por esse motivo foi a escolhida
durante o curso de patologia bucal.
Anos depois, fiz um grande novo amigo, e por esses dias descobri que ele
tem essa patologia - a mesma que há anos atrás escrevemos um artigo...
Atualmente, pesquisando a
respeito não encontrei grandes mudanças, principalmente sobre o tratamento que
é sintomático. Uso de anti histamínicos, injeção ou comprimidos de corticóides,
cremes e pomadas que aliviem a coceira e a dor nas lesões, bochechos como no
caso do líquen bucal com agentes anestésicos e enxaguatórios orais sem álcool.
Além é claro de terapia, pois o fator emocional ainda é muito forte na
manifestação dos sintomas. A regressão da doença pode durar meses ou anos, e é
espontânea. Por experiência e formação na área de saúde complementar também
aposto na homeopatia, acupuntura e terapia floral em conjunto com a terapêutica
tradicional, embora ainda não houvesse tratado de casos de líquen plano
especificamente. Outra forma de tratamento que encontrei na literatura é a Fototerapia, que utiliza raios ultravioleta,
aplicados 2 a 3 vezes por semana, que penetram as camadas de pele e estimulam o
sistema imune a combater a doença.
Transcrevo para esse blog nosso
artigo com os devidos créditos... E espero que, mesmo sendo algo não tão
profundo e um tanto quanto antigo possa orientar de alguma forma tanto as
pessoas que são portadoras dessa moléstia quanto àquelas que convivem com
alguém que a possua.
Publicado na Revista da FOB –
Faculdade de Odontologia de Bauru – USP
(Rev. FOB V.8, n. 3/4, p.23-28,
jul./dez. 2000)
“
Conduta médica em pacientes com
líquen plano cutâneo e bucal
Medical management in patients with cutaneous and
oral lichen planus
·
Cristianne Simione COLAÇO Aluna de graduação do Curso de Odontologia da FOB-USP e
Bolsista de Iniciação Científica do Programa PIBIC/CNPq/USP.
·
Regina Garcia DORTA Mestranda em Patologia Bucal pela FOB-USP
·
Carina Gisele COSTA Aluna de graduação do Curso de Odontologia da FOB-USP.
·
Denise Tostes OLIVEIRA Professora Doutora do Departamento de Estomatologia –
Disciplina de Patologia da FOB-USP.
Líquen plano constitui uma doença de interesse
médico e odontológico, apresentando lesões cutâneas e bucais. Sua etiologia
ainda não foi completamente estabelecida e o seu diagnóstico envolve muitas
controvérsias. O objetivo deste trabalho foi conhecer a conduta clínica adotada
pelos dermatologistas diante dos casos de líquen plano cutâneo e/ou bucal. Um
total de 50 dermatologistas de Bauru e região foram questionados quanto à
etiologia, diagnóstico, tratamento e proservação do líquen plano, bem como
sobre o seu diagnóstico diferencial com as reações liquenóides e sua
possibilidade de transformação maligna. Para muitos dos entrevistados o líquen
plano tem origem idiopática (22,4%) ou psicossomática (21,5%) e o diagnóstico é
estabelecido por meio de biópsia das lesões cutâneas ou bucais. O diagnóstico
diferencial entre o líquen plano e as reações liquenóides na pele é realizado
pela história clínica do paciente por 34,9% dos entrevistados, entretanto, na
mucosa bucal, 46,3% optam pela biópsia. Para 46% dos dermatologistas, o líquen
plano não constitui uma condição cancerizável e 40% não realizam a proservação
dos pacientes após completa remissão dos sintomas. A partir dos resultados
conclui-se que a conduta clínica em pacientes com líquen plano é variável entre
os dermatologistas, inclusive quanto às lesões bucais e seu potencial de
malignização, o que reforça a necessidade de uma maior integração entre médicos
e dentistas visando beneficiar diretamente os pacientes. Unitermos: Líquen
plano; Reação liquenóide; Lesão cancerizável. O INTRODUÇÃO O líquen plano
constitui uma doença mucocutânea relativamente freqüente, com prevalência
estimada entre 0,02% e 1,2% na população em geral4 , sendo a mais
comum das doenças dermatológicas com manifestações bucais. Sua manifestação
bucal e/ou cutânea apresenta um variado espectro de características clínicas4,6,10
e, como conseqüência, os pacientes acometidos acabam por procurar os cuidados
tanto dos dermatologistas como dos dentistas, tornando indispensável a
integração entre estas duas especialidades. A etiologia do líquen plano ainda
não foi totalmente esclarecida, mas tem sido considerado uma doença
multifatorial mediada por um mecanismo imunopatológico, envolvendo particularmente
os linfócitos T 7,20 .
Embora seja definido pela
Organização Mundial da Saúde (OMS)16 como uma condição cancerizável,
existe grande controvérsia quanto ao potencial de malignização do líquen plano1,4,5,7,8,11.
Em um editorial publicado em 1998, ALLEN1 questiona a transformação
maligna do líquen plano, sugerindo que um diagnóstico precipitado desta doença
pode ocorrer devido à falta de critérios microscópicos por parte dos
patologistas. Há, ainda, trabalhos como o de EISENBERG; KRUTCHKOFF5
, 1992, que questionam se o líquen plano seria realmente uma condição
cancerizável ou apenas predisporia a mucosa bucal comprometida à influência de
outros fatores carcinogênicos externos. MEIJ et al.13, em 1999, publicaram uma
revisão de todos os casos de transformação maligna de líquen plano na mucosa
bucal existentes na literatura inglesa no período de 1977 a 1999. De 98
malignizações encontradas, apenas 33 (34%) preencheram todos os critérios e
foram consideradas como suficientemente documentadas. Dos 65 casos excluídos
(66%), 20 não estavam adequadamente documentados quanto ao critério
microscópico, um não tinha documentação clínica ou microscópica apropriada das
lesões bucais do líquen plano, 33 não apresentavam nem documentação clínica,
nem microscópica, quatro foram rejeitados porque o controle era de menos de
dois anos e outros sete devido ao uso de tabaco. Os autores concluíram ser
necessário estabelecer critérios de diagnóstico mais uniformes que permitam a
realização de estudos de longa duração e com protocolos bem definidos para a
coleta das informações. Enquanto estes critérios não forem estabelecidos, a
natureza cancerizável do líquen plano deve ser considerada incerta. O risco de
transformação maligna tem sido associado e descrito principalmente em lesões
localizadas na mucosa bucal2,9,10,22,23. Em relação ao líquen plano
cutâneo, estudos como o de SIGURGEIRSSON e LINDELÖF21 (1991) demonstraram não
existir um aumento do risco de malignização destas lesões após analisarem 2071
pacientes com líquen plano cutâneo durante um período médio de 9,9 anos.
Existem ainda alterações cutâneas e mucosas com características clínicas e
microscópicas semelhantes ao líquen plano, denominadas de reações liquenóides5,20,
que podem ser desencadeadas por fatores locais ou sistêmicos como, por exemplo,
medicamentos16,18 ou materiais restauradores metálicos14,19.
O diagnóstico diferencial entre líquen plano e reação liquenóide depende do
estabelecimento de uma relação causa-efeito14,20. A eliminação da
provável causa acompanhada da regressão da lesão confirma o diagnóstico de
reação liquenóide18 . A vasta literatura a respeito da etiologia,
diagnóstico e tratamento do líquen plano e as diversas controvérsias nela
existente induzem a diferentes condutas clínicas por parte dos profissionais
médicos e cirurgiões-dentistas envolvidos na terapia do líquen plano. Assim
sendo, o objetivo deste trabalho foi avaliar a conduta médica em pacientes com
líquen plano bucal e/ou cutâneo, bem como conhecer o posicionamento destes
profissionais frente à controvérsia sobre o potencial de malignização destas
lesões.
MATERIAL E MÉTODOS Um total de 50
dermatologistas da cidade de Bauru e região formados em diferentes faculdades
de Medicina foram entrevistados pessoalmente e responderam a um questionário
contendo 19 perguntas sobre a etiologia, o diagnóstico e o tratamento do líquen
plano. A opinião e a conduta clínica dos dermatologistas sobre a transformação
maligna dos casos de líquen plano também foram abordadas no questionário. Os
entrevistados não foram identificados. Todos os dados coletados foram
arquivados em um banco de dados e quantificados percentualmente visando traçar
o perfil de conduta clínica dos dermatologistas de Bauru e região frente aos casos
de líquen plano cutâneo e/ou bucal.
RESULTADOS A maioria dos médicos
que participou deste trabalho realizou seu curso superior em uma Faculdade de
Medicina pública, estadual ou federal e apenas 28% destes foram formados em uma
Faculdade de Medicina privada. A especialização na área dermatológica foi
realizada em Faculdades na capital e no interior do estado de São Paulo e
apenas dois dos entrevistados fizeram seus cursos em outros estados (Rio de
Janeiro e Distrito Federal). Com relação ao tempo de atuação na área
dermatológica, 58% dos entrevistados tinham mais de um e menos de dez anos; 24%
apresentavam mais de dez e menos de 25 anos; 14% tinham mais de 25 anos e
apenas 4% tinham menos de um ano. Os principais fatores etiológicos do líquen
plano citados pelos dermatologistas incluíram: fator idiopático (22,4%),
psicossomático (21,5%), imunológico (14,0%) e viral (14,0%). Outras associações
do líquen plano com diabetes melito, alterações infecciosas, anemia,
predisposição genética, alergias, tabagismo e exposição solar também foram
citadas e relacionadas com a etiopatogenia da doença. Para 86% dos
dermatologistas, os casos de líquen plano afetam mais comumente a pele, sendo o
tipo papular o mais encontrado na clínica médica segundo 33,3% dos
entrevistados. Outras formas de líquen plano como o hipertrófico, rubro plano,
em placa e reticular também foram citados como os mais freqüentes por 13,7%,
9,8%, 2,0% e 2,0% dos entrevistados, respectivamente. Embora todos os
dermatologistas tenham respondido que examinam também a boca quando o paciente
apresenta líquen plano cutâneo, apenas 14% destes ressaltaram a presença
freqüente de lesões concomitantes na pele e mucosa bucal. O estabelecimento do
diagnóstico de líquen plano pelos dermatologistas é realizado por meio de
biopsia e/ ou exame clínico das lesões cutâneas ou bucais (Tabela 1). De todos
os entrevistados, 4% relataram não ter experiência em relação ao diagnóstico do
líquen plano bucal. Para 32% dos entrevistados, a biopsia deve ser realizada
quando as lesões de líquen plano cutâneo apresentam características atípicas e
existe dúvida quanto ao diagnóstico clínico. A grande maioria dos entrevistados
(70%) prefere realizar a biopsia na região da pele quando o paciente apresenta
lesões cutâneas e/ ou bucais de líquen plano e apenas 4% responderam que
preferem a boca por acreditarem que neste local o estabelecimento do
diagnóstico clínico pode ser mais complicado. A escolha pela região cutânea
para a realização da biopsia segundo 55% dos entrevistados se justifica pela
maior facilidade de acesso cirúrgico. O diagnóstico diferencial entre líquen
plano e reação liquenóide cutânea é estabelecido pela história clínica do
paciente (34,9% dos entrevistados), analisando-se principalmente as
características clínicas (11,6%) e a distribuição topográfica das lesões
(12,8%). Apenas 22,1% dos dermatologistas realizam biopsia em casos de reações
liquenóides cutâneas para determinação do diagnóstico. Os demais profissionais
responderam que removeriam o agente causal, observariam os sintomas ou
verificariam se as lesões ocorrem em surtos. Ao contrário da pele, 46,3% dos
entrevistados responderam que realizam a biopsia para diferenciar líquen plano
de reações liquenóides na boca e para 20,9% a história clínica deve ser
avaliada para se estabelecer o diagnóstico. Outros 10,4% dos entrevistados o
fazem pela aparência clínica das lesões e 6% responderam que nunca haviam
observado lesões compatíveis com reação liquenóide localizadas exclusivamente
na boca. Alguns dermatologistas responderam que fariam este diagnóstico
diferencial utilizando a sorologia e/ou imunofluorescência ou eliminando os
possíveis agentes causais. Apenas 3,0% dos entrevistados encaminhariam o
paciente para um estomatologista. Quando questionados sobre o potencial de
malignização do líquen plano, 46% dos dermatologistas responderam que não o
consideram uma condição cancerizável e para 30% dos entrevistados apenas alguns
casos de líquen plano apresentam potencial carcinogênico. Entretanto, 24% dos
médicos consideram o líquen plano uma lesão que pode sofrer transformação
maligna (Tabela 2). Apenas as lesões bucais, principalmente o líquen plano erosivo,
são consideradas cancerizáveis por 42,3% dos dermatologistas que acreditam
nesta possibilidade e destes, 44,5% comunicam e orientam o paciente
esclarecendo os riscos de transformação maligna. Muitos dos entrevistados
(40,7%) não esclarecem o paciente quanto a estes riscos por acreditarem que
esta atitude pode neurotizar o paciente, especialmente os cancerofóbicos,
enquanto outros (28,6% dos dermatologistas) preferem esperar a regressão da
doença com o tratamento. A grande maioria dos entrevistados (94,0%) relatou não
ter encontrado em sua vivência clínica um paciente com líquen plano que tenha
apresentado outra lesão maligna. Os 6% dos dermatologistas que já observaram
esta ocorrência, o fizeram freqüentemente em locais previamente acometidos por
líquen plano. O acompanhamento clínico e a proservação após o tratamento dos
pacientes com líquen plano (Tabela 2) é sempre realizado por 48% dos
profissionais e apenas em alguns casos por 12% dos entrevistados. Para 40% dos
dermatologistas não há necessidade de proservação dos pacientes após a
regressão das lesões cutâneas e/ou bucais. A corticoterapia continua sendo o
tratamento de escolha para as lesões de líquen plano cutâneo segundo 49,5% dos
dermatologistas entrevistados. Outras terapias como o uso de antibióticos, de
anti-histamínicos, da crioterapia, da PUVA terapia, da homeopatia, da
talidomida e da psicoterapia também foram relatadas por alguns profissionais.
Para as lesões bucais, 27,6% dos profissionais também utilizam a corticoterapia
e alguns relataram outras terapias como o uso de cauterização com ácido
tricloracético, de bochechos com uréia e água destilada, de derivados da
vitamina A e de tranqüilizantes em líquen plano do tipo reticular com lesões
restritas à mucosa bucal.
DISCUSSÃO O líquen plano tem sido
descrito como uma doença mucocutânea inflamatória crônica caracterizada por uma
resposta imunopatológica mediada por células7,16,20 . Muitos
aspectos relacionados a sua patogenia já foram esclarecidos, todavia sua
etiologia ainda desconhecida continua sendo associada a inúmeros fatores
desencadeantes20. A postura médica avaliada neste trabalho, não
somente em relação à etiologia e diagnóstico, mas também ao tratamento e à
proservação dos pacientes com líquen plano, provavelmente corresponde a uma
conduta clínica atualizada, pois a maioria dos nossos entrevistados eram
indivíduos com menos de dez anos de especialização e atuação na área
dermatológica. Nossos resultados demonstraram que para os dermatologistas o
líquen plano é uma doença associada principalmente a causas idiopáticas ou
fatores psicossomáticos. No entanto, a grande variedade de fatores etiológicos
citada pelos profissionais entrevistados, como o fator imunológico (14,0%) e
viral (14,0%), além da associação do líquen plano com doenças infecciosas,
diabetes melito, anemia, predisposição genética, alergias, tabagismo e
exposição solar, reflete a indefinição observada na literatura quanto aos
verdadeiros fatores desencadeantes da doença10,11,20 . Quanto ao
diagnóstico do líquen plano cutâneo, este é realizado pela maioria dos
profissionais entrevistados somente por meio de biopsia (38%) ou de sua
associação com o exame clínico (32%). Por outro lado, segundo os
dermatologistas, para as lesões bucais a biopsia é necessária (Tabela 1) não
somente para estabelecer o diagnóstico, mas principalmente para eliminar outras
possíveis doenças com manifestações clínicas que simulem o líquen plano na
mucosa bucal, dentre elas lesões cancerizáveis como a leucoplasia, por exemplo16
. Esses resultados reforçam o princípio de que a análise microscópica em lesões
de líquen plano, mesmo naqueles casos típicos, é importante, principalmente
para descartar a possibilidade de ocorrência de alterações celulares
displásicas ou neoplásicas imperceptíveis ao exame clínico e que poderiam estar
associadas a estas lesões 5,8 . No entanto, o potencial de
transformação maligna do líquen plano, especialmente nas lesões bucais
erosivas, foi altamente discordante entre os profissionais e pareceu não ser
uma preocupação dos dermatologistas frente aos pacientes acometidos pela
doença. Isso provavelmente ocorreu porque o risco de malignização do líquen
plano tem sido descrito com freqüência nas lesões bucais e muito pouco nas
lesões cutâneas, como verificado por SIGURGEIRSSON; LINDELÖF21 (1991). Embora
todos os entrevistados relataram examinar também a boca dos pacientes
acometidos pelo líquen plano cutâneo, apenas 14% destes observaram a presença
de lesões concomitantes na pele e mucosa bucal. Sendo assim, o que se constatou
foi que a conduta médica em relação aos pacientes acometidos pelo líquen plano
está voltada principalmente para as lesões cutâneas e se baseia muito mais no
diagnóstico e tratamento do que na proservação e orientação do paciente sobre o
possível potencial carcinogênico do líquen plano. Mesmo tendo sido o líquen
plano considerado uma condição cancerizável pela Organização Mundial de Saúde16,
este assunto ainda constitui motivo de ampla discussão na literatura1,2,4,9,11,13,20,21,22
e, provavelmente, permanecerá sem uma conclusão definitiva ainda por vários
anos. Isso se deve, em parte, pela documentação incompleta dos casos relatados
e em parte pela falta de critérios bem definidos para o diagnóstico do líquen
plano8,13. Como foi demonstrado neste trabalho, a falta de
proservação dos pacientes pelos dermatologistas após a remissão das lesões de
líquen plano, relatada por 40% dos entrevistados, também constitui um provável
fator limitante para a solução desta controvérsia. A grande maioria dos médicos
entrevistados relatou nunca ter presenciado em sua vivência clínica um caso de
malignização de líquen plano, o que de fato pode refletir a realidade, mas por
outro lado pode ser a conseqüência de uma proservação insuficiente, uma vez que
os pacientes, quando acometidos por um tumor maligno, recorrem a profissionais
especializados, como o oncologista ou mesmo o cirurgião de cabeça e pescoço,
geralmente apresentando-se já em fases avançadas da doença. A conduta clínica
relatada pelos dermatologistas evidencia, como seria naturalmente esperado, uma
maior familiaridade com as lesões cutâneas do líquen plano. No entanto,
torna-se imprescindível que estes profissionais reforcem sua atenção também no
exame da mucosa bucal. Embora 100% dos entrevistados tenham respondido que
examinam também a boca quando o paciente apresenta líquen plano cutâneo, poucos
verificaram a presença de lesões bucais concomitantes, em discordância com os
índices encontrados na literatura4,20,21. Estes resultados podem ter
ocorrido porque, em contraste com a pele, o líquen plano na mucosa bucal
caracteriza-se por uma manifestação crônica de longa duração, quase sempre
intercalada por períodos de exacerbação aguda. Além disso, as lesões bucais
podem apresentar simultaneamente mais de um fenótipo, mascarando o quadro
clínico típico da doença. O diagnóstico diferencial entre líquen plano e reação
liquenóide na mucosa bucal para 46,3% dos entrevistados deve ser baseado no
exame microscópico. Entretanto, de acordo com a literatura5,14,15,17,19,20,
o diagnóstico de reação liquenóide na mucosa bucal depende inicialmente da
identificação clínica de uma relação causa-efeito, removendo-se os possíveis
fatores etiológicos como, por exemplo, restaurações dentárias e medicamentos12,18.
A eliminação da provável causa acompanhada da regressão da lesão confirma o
diagnóstico de reação liquenóide. Microscopicamente, as diferenças entre estas
duas entidades patológicas são pouco significativas não permitindo estabelecer
critérios seguros de diferenciação3,13,18. Apenas 3,0% dos
dermatologistas relataram que encaminhariam o paciente para um estomatologista
em caso de dúvida no estabelecimento do diagnóstico diferencial entre líquen
plano e reação liquenóide na mucosa bucal o que confirma a pouca integração
entre os profissionais da área de saúde. Finalmente, vale ressaltar que os
pacientes com líquen plano são portadores de uma doença com implicações
sistêmicas e necessitam dos cuidados de uma equipe integrada que deve incluir
prioritariamente dermatologistas, estomatologistas e patologistas. O
encaminhamento destes pacientes tanto do dentista para o dermatologista, como
no sentido contrário deve, idealmente, tornar-se uma prática freqüente, visando
desta forma beneficiar diretamente os pacientes.
TABELA 1- Meios de diagnóstico do
líquen plano cutâneo e bucal utilizados pelos dermatologistas
DIAGNÓSTICO DO LÍQUEN PLANO
|
CUTÂNEO
|
BUCAL
|
CLÍNICO
|
18%
|
20%
|
BIOPSIA
|
38%
|
46%
|
CLÍNICO + BIOPSIA
|
32%
|
20%
|
CLÍNICO + EVENTUALMENTE BIOPSIA
|
12%
|
10%
|
TABELA 2- Opinião dos
dermatologistas sobre o potencial de malignização e a conduta clínica relativa
à proservação após realização do tratamento dos casos de líquen plano cutâneo
e/ou bucal
LÍQUEN PLANO
|
SIM
|
NÃO
|
ÀS VEZES
|
CONDIÇÃO CANCERIZÁVEL
|
24%
|
46%
|
30%
|
PROSERVAÇÃO APÓS TRATAMENTO
|
48%
|
40%
|
12%
|
ABSTRACT Lichen planus is an
important disease for physicians and dentists since it affects mucous membranes
and skin. Its etiology isn’t yet completely understood and its diagnosis
involves many controversies. The aim of this paper was to assess the
dermatologists’ practices in regard oral and/or cutaneous lichen planus. Fifty
dermatologists from Bauru and it neighboring cities were asked about the
etiology, diagnosis, treatment and follow-up of lichen planus, as well as its
differential diagnosis with lichenoid lesions and its possibility of malignant
transformation. Many practitioners answered that lichen planus is idiopathic in
origin (22.4%) or has a psychosomatic cause (21.5%) and its diagnosis is
confirmed by histopathological analysis of oral and cutaneous lesions. The
differential diagnosis between lichen planus and lichenoid lesions on skin is
mainly based on clinical history by 34.9% of the practitioners interviewed,
although, in the oral mucosa, 46.3% choose biopsy as a means of diagnosis.
Forty six percent of the dermatologists do not consider lichen planus as a
precancerous lesion and 40% do not perform follow-up of patients after complete
remission of the symptoms. From these results we conclude that the clinical
practice toward patients with lichen planus is widely variable among
dermatologists considering oral lesions and its malignant potential, what
reinforces the necessity of a better integration between physicians and
dentists, what would be of great benefit for the patients. Uniterms: Lichen
planus; Lichenoid reaction; Premalignant lesion.
AGRADECIMENTO Os autores
agradecem ao CNPq pela concessão da bolsa de iniciação científica que muito
contribuiu para o desenvolvimento desta pesquisa.
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Dra. Denise Tostes Oliveira Departamento
de Estomatologia – Disciplina de Patologia Faculdade de Odontologia de Bauru -
USP
DORTA, R. G.; COLAÇO, C. S.;
COSTA, C. G.; OLIVEIRA, D. T. Conduta médica em pacientes com líquen plano
cutâneo e bucal
”